Aquele menino não entendia porque o senhor calvo, barrigudo, barba branca, ia todos os dias dar comida aos pombos – todos os dias – sempre na mesma hora da manhã.

Fazia frio naquele dia. Era outono... Uma manhã cinzenta. O menino foi ao parque, como de costume, de mãos dadas com a mãe. Não viu o senhor sentado no banco vermelho de madeira.

— Por que o vovô que parece Papai Noel não está aqui? – interrogou o garoto à mãe.

Ela, muito sorridente, respondeu que não podia saber. Era a primeira vez que também não via o senhor tão simpático de bochechas rosadas.

— Mas as pombinhas estão aqui! Elas precisam de comida! Quem vai jogar comidinha para elas? - interpelou o garoto. – Elas parecem tão tristes!!!

— Meu filho, por que não vai brincar? Olha lá seu coleguinha, está chegando para se balançar com você.

Saltitante, o garoto foi ao encontro de seu amiguinho. A mãe abriu o livro, leu as primeiras linhas da página. Mas a dúvida do filho rondava também a sua mente.

Fazia algumas semanas que ela e o filho iam àquele parquinho. O senhor que “parecia com papai Noel” e usava suspensórios fazia parte daquele cenário. Ela lembra de um dia que o filho brincava na gangorra, desequilibrou-se e caiu aos prantos na areia fofa. A mãe foi ao socorro do filho. Mas o susto não o deixava parar de chorar. Foi a primeira vez que o velhinho se aproximou deles, estendeu a mão oferecendo umas migalhas de pão. O garoto olhou com os olhos cheios d’água, interrogou com o olhar. Mas não exitou ao pegar as migalhas e jogar aos pombos.

E assim, todos os dias, a hora de ir ao parque era o encontro marcado com o senhor e os pássaros. Outro dia, o garoto se aproximou do velhinho e pediu colo. Prontamente teve o pedido atendido. E os dois passaram muito tempo, calados, dando comida às pombinhas.

Nesta manhã, por mais que o garoto estivesse entretido com seu amiguinho, parecia que a alegria não era a mesma. Realmente, a mãe notou que as pombinhas andavam por ali muito tristes, como que procurando aquele senhor.
No dia seguinte, logo na entrada do parque, o garoto soltou a mão da mãe e correu em direção ao banco vermelho do vovô. Decepcionou-se. Assim como ele, os pombos também estavam tristes. Mais um dia, o senhor não apareceu no parquinho.

Os dias seguintes impossibilitaram o encontro daqueles dois amigos. Quem passasse pela casa amarela, número 422, da Rua Almeida, veria o menino debruçado sobre a janela, olhando a chuva que caía impiedosamente. Parecia que ele fazia uma prece para que o tempo melhorasse e ele pudesse voltar ao parque.

Uma semana depois, o sol iluminou a manhã de um sábado. Alguns metros de distância do parque, o menino soltou a mão da mãe e correu em direção ao banco. Percorreu aquela distância com tanta expectativa que não sentiu o cansaço do longo percurso. A mãe já sabia o porquê de tanta ansiedade, porque o filho havia levantado da cama antes dela, porque o menino abriu um sorriso quando viu o dia ensolarado, porque pediu, quase implorando, para ir ao parquinho.

Quando chegou perto do banco, o garoto parou. A paisagem não era a mesma do último dia que tinha estado lá com a mãe. Os pássaros cantavam uma canção diferente naquele dia. E as pombinhas vieram recebê-lo como que para contarem que ele tinha voltado. O menino ficou cheio de tanta emoção e correu para o banco. Deu um abraço muito apertado naquele senhor que, entendendo a saudação, pediu desculpas pelo tempo que esteve afastado.

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