— Olha, aqui estou novamente. Não vamos ficar de rodeios porque nós dois sabemos que sempre que eu te buscar, vou te encontrar. Portanto vou logo dizendo que num contato com o mundo das idéias eu fiz uma pergunta e me mandaram perguntar para você. A dúvida é quanto à origem da carga elétrica nas chamadas “pessoas elétricas”, como ela se acumula e o que desencadeia a sua descarga.
— Você não precisa ser tão detalhista e me relatar as minúcias. Você ainda não percebeu que sou onisciente e onipresente?
— Ah! Então agora você quer ser Deus!?
— Então eu não sou?
— Eu sei que um sábio da humanidade disse “Vós sois Deuses”, mas isso poderia ser interpretado de forma relativa, pois era comum na antiguidade se referir aos Deuses do politeísmo, que, na verdade, não eram senão espíritos com algum destaque. Daí a se dizer onisciente e onipresente vai uma grande distância.
— Pois é, mas eu ainda te digo mais... Sabe todos aqueles atributos que Allan Kardec enumerou, dizendo que era o que Deus não poderia deixar de possuí-los? Pois eu tenho todos eles.
— Isso já é demais! Essa afirmação é inconseqüente e irresponsável, além de presunçosa.
— Sim. Pode parecer. Mas eu só quero que você perceba a amplitude da sua capacidade. Você pode muito mais do que pensa e faz. A sua preguiça mental bloqueia investigações que poderiam te fazer avançar muito mais rápido.
— Tudo bem. Concordo. Entretanto, continuo dizendo que se comparar a Deus é um exagero injustificável.
— Mais uma vez você está equivocado. Não é exagero e é plenamente justificável. Te faço uma pergunta: Tu conheces Deus?
— Não. Claro que não. Mas por não conhecê-lo não quer dizer que não exista.
— Sim. É verdade. Mas como tu podes comprovar a existência se não o conheces?
— Tu estás me fazendo perguntas com respostas óbvias. Diz logo aonde queres chegar. Nós sabemos que a comprovação não precisa ser física, nem matemática, nem por qualquer ciência conhecida. Pode ser filosoficamente, pelo uso da razão.
— Sei. Qual o limite da razão?
— A razão absoluta não tem limite. O limite está no meu universo particular.
— Isso! Tu acabaste de concluir que é Deus.
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— Sendo assim, então você terá que concordar que ninguém existe, porque todo mundo é para o mundo exterior aquilo que vêem nele.
— Exatamente! Na realidade cada um é aquilo que pensa de si. Desde que conheça a si mesmo, senão será apenas um hipócrita.
— Como eu nem me conheço direito, então você é uma farsa.
— É. Mas eu existo. Não tenho culpa se você não se esforça para conhecer seus mais profundos sentimentos, sua índole, suas virtudes,... Você sabe das virtudes porque lhe faz bem apreciá-las e os outros as salientam sempre que possível, satisfazendo seu ego. Mas eu conheço muitos dos seus defeitos. Quer que os enumere?
— Ora! Vá plantar batatas!
— Ah! Viu como você é parcial? Tenta esconder seus defeitos de si mesmo e se irrita com a possibilidade de vê-los a descoberto. Desse jeito nosso planeta progride muito mais lentamente porque fica dependente do mundo das idéias para que cada um apareça tal como é, se envergonhando das suas fraquezas e se esforçando mais para corrigir os defeitos.
— ... e o que você quer que eu faça?
— Simples! Converse mais comigo e não tema o que tenho para lhe dizer. Baseado no que eu disser você pode tomar providências para não passar vergonha mais tarde. Você pode e deve conversar com todo mundo, mas não esqueça que só na conversa comigo é que você pode sintetizar todas as informações recebidas. Como você não é real eu é que lhe direi o que fazer.
— Huuummm! Que doideira! Era só o que me faltava. Agora tenho que confabular com você para determinar os rumos da minha vida? Onde está o direito de autodeterminação? E o meu livre-arbítrio, que fim levou? E os direitos humanos? Onde está a Lei Divina que me deixa a mercê de um punhado de fótons?
— Cuidado com o que você diz sem pensar, porque vou lhe cobrar cada idéia fajuta que lançar. Você está fingindo não saber que não sou apenas um punhado de fótons. Consultar-me é a única atitude que preserva a sua liberdade. Do contrário, fará sempre o que os outros determinarem.
— Então fique aí com a sua toda poderosa racionalidade que eu vou cuidar da minha vida. Tenho mais que fazer do que ficar dialogando com a minha imagem no espelho, ainda mais quando ela acha que é dona do meu destino.

— Isso! Vá. Você tem tarefas a cumprir para se manter no mundo aparente. Eu estarei sempre aqui, disposto a dialogar e lhe mostrar alternativas. Mais cedo ou mais tarde você criará coragem de me questionar sobre todas as coisas e compreenderá o que é a verdadeira liberdade. Então eu e você seremos um. — Sem laivos de vaidade ou orgulho e sem comparação com ditos antigos, você só atingirá dimensões superiores através de mim.

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