Numa certa palestra escutada em um dezembro qualquer desses, em um auditório climatizado, aquele clima de fim de ano, tudo numa boa, mas em um determinado momento, eu ouvi algo que me deixou simplesmente perplexo, minha tranqüilidade foi abalada. O tema da palestra, se não me engano, era “O amor de Jesus por todos nós”, digo “se não me engano” porque se não era esse o tema, pelo menos foi o que mais marcou na palestra.

A palestra transcorria de forma normal, pois apesar de não concordar com as interpretações de alguns fatos, mas tendo profundo respeito pela opinião de todos, por mais puritana, alternativa ou sem nexo que seja. Então, lá pelas tantas, a palestrante chegou a dizer que, segundo Carlos Torres Pastorino, Jesus nos amou e ama tanto porque um dia já fomos células do seu corpo. Isso mesmo que você leu: “Jesus nos ama tanto porque fomos células de seu corpo” Repito: “Células de seu corpo”. Em nenhum momento a palestrante pareceu discordar da colocação de Pastorino, pois falou e corroborou achando que isso é uma explicação plausível para o amor de Jesus por nós.

Ufa!

A partir desta colocação podemos fazer algumas reflexões: como Pastorino soube dessa informação? No corpo de Jesus tinha trilhões de células, quais eram elas? Células da pele? Células-tronco? Células nervosas? Células da unha? Onde Jesus viveu o corpo dele tinha unha? Parece absurdo perguntar se ele tinha unha, mas não. Já que dizem que Jesus já era perfeito antes da formação da Terra, então, com essa informação, podemos especular sobre qualquer coisa a respeito de como era ou seria o corpo de Jesus, onde viveu suas experiências rumo à evolução, suas células e tal. Podemos ver que a partir de uma informação como essa, sobre detalhes que não nos interessa, leva-nos a uma cadeia de perguntas que não necessitamos ter a resposta.

Mas, vamos refletir sobre o amor, já que era sobre o amor a reflexão acima. Vamos partir da explicação. Se realmente fomos célula do corpo de Jesus uma dia qualquer dessa eternidade e acabamos por ser o que somos hoje, Jesus só nos ama tanto porque fizemos parte de seu corpo? Isso é amor ou apego? Jesus não ama profundamente todas as criaturas? Ou ele só ama profundamente as suas antigas células? Ou ainda somos células do corpo dele? Meu Deus, será!?!?!? O seu grau de perfeição não é tão grande assim, já que só ama profundamente algo que lhe pertenceu, as células dos outros espíritos que estão no grau evolutivo de Jesus ou até mais evoluído só são respeitadas, toleradas? Eita, mais evoluído que Jesus? Calma , não comece a especular demais...

Jesus nos ama porque fomos isso ou aquilo, ou nos ama por estar numa condição tal que não interessa o que somos? Acredito que quanto mais evoluído somos, mais amamos a vida. Tudo o que faz parte da vida é amado, sejam seres humanos, animais, vegetais, minerais, espirituais, e outros ais.... Não é uma questão de conhecer pessoalmente para amar, é uma condição de amorosidade que permeia a própria vida, não importa o que seja, é amor pela criação, amor por ser. Pode ser uma perspectiva ontológica o amor. Amar o que é, não o que não é, amar também o vir a ser. Saber da essência, não da aparência ou do estado. Ter consciência de que somos todos criaturas luminosas, que estamos na condição do aprendiz que falta descobrir a própria essência perfeita que somos.

Se o amor é o sentimento ou o valor mais nobre que podemos pensar que seja, então, devemos sempre pensar em amor destituído de qualquer relação de apego ou de imposição. Ainda não descobrimos o amor, apenas manifestamos o pouco que sabemos dele, o que para nós é o amor. E isso é maravilhoso, pois estamos nos descobrindo, descobrindo os outros, descobrindo a vida...

Então, quando fores cortar a unha, lembra-te: podes estar cortando um vir a ser amado seu. Acho que Zé do Caixão é um homem de vanguarda, pois nem das unhas ele se desfaz, pois tem um profundo amor por elas... ou apego? Sei lá, só sei que amo minhas unhas!

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