Usualmente tem-se o conceito de Fé inseparável do conceito de religião. Esses conceitos criados pelos homens, foram sendo passados de geração em geração através de vários métodos, pela contasão de histórias, pelos relatos de fatos extraordinários, pela experiência direta de fenômenos transpessoais, etc. O fato é que a experiência da Fé é algo intrigante e volátil ao mesmo tempo. Muitos acreditam piamente na experiência mística como solução de problemas humanos e sobre humanos. Outros acreditam cegamente na revelação do sagrado como o sentido ultimo da vida e se portam como agentes propiciadores da divindade na terra. E outros se relacionam com a Fé num misto de desconfiança e incredulidade por não encontrar na explicação da Fé, o sentido de experiência significativa, e desta forma, não serve como referência na vida.

A verdade é que temos tido motivos para acreditar em várias coisas e ao mesmo tempo não acreditar em nada. Esta postura mental e existencial é um desafio de natureza transpessoal.

Recolocando um outro sentido ou simplesmente explorando os vários significados que o conceito Fé pode nos proporcionar, veremos que este fenômeno está em posição contrária ao que se verifica no seu uso mais geral e habitual.

Segundo o dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa 1.0, a palavra Fé assume alguns significados diferentes, como por exemplo, a primeira das três virtudes teologais; confiança absoluta (em alguém ou em algo); credito; asseveração; afirmação; comprovação de algum fato; crença religiosa sem fundamentos racionais; compromisso assumido de ser fiel a palavra dada, de cumpri exatamente o que se prometeu; credibilidade que deve ser dada ao documento no qual se funda; etc. Vários significados para uma única expressão. Significados diversos, mas todos procurando dar como certo o fato da existência de uma relação de confiança mantida e estabelecida pelo homem.

A confiança é uma força intima que impulsiona aquele que a tem. É um sentimento de segurança interior que atesta a existência da coragem e da vontade de fazer. Portanto, a Fé é um conceito inseparável do conceito de Confiança. Não é possível existir Fé, sem a existência da Confiança. E a confiança é a certeza de que algo será cumprido, realizado. É a esperança e o otimismo aliados na certeza do que se quer.

Sob a perspectiva da consciência, verificamos que o elemento mais importante da noção de consciência é a intencionalidade. A intencionalidade diz daquilo que eu dirijo, daquilo que faço com vontade, com propósito, procurando da um sentido e significado. A consciência é algo vivo e em constante interação com os conteúdos psíquicos do ser. Mas nem tudo está plenamente consciente em nós. Temos aspectos comportamentais, por exemplo, de que ainda não estamos utilizando de maneira intencional, consciente. Ao conversar com uma pessoa que não nos agrada e que gostaríamos de evitar contato, por exemplo, podemos estar tendo experiências conscientes, intencionais, sendo educado e ao mesmo tempo, podemos estar demonstrando um desagrado com uma postura corporal sem que percebamos isso. Na medida em que eu sei que isto está acontecendo, ou seja, na medida em que eu estou consciente destes comportamentos, poderei ser mais autentico e expressar-me com mais sinceridade e leveza. A consciência é um elemento que torna vivo aquilo que aparentemente estava morto ou pelo menos indisponível para a consciência.

Neste sentido, a Fé é uma experiência da consciência, onde os fenômenos ocorrem na medida intencional da vontade e da confiança na realização de suas expectativas e certezas. Sem o uso consciente da nossa vontade, não é possível termos um fenômeno de Fé. Sem a existência de um sentido ou significado para a vida, não é possível continuar vivendo. Muitas mortes por suicídios são originárias da falta de sentido na vida. A vontade de viver e o uso consciente das nossas habilidades e potencialidades nos tornam cada vez mais um ser em constante processo de auto-transformação, em busca da profunda experiência divina realizadora.

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