Certa vez fui ao supermercado com meu pai e observei um fato que me fez refletir bastante sobre as diferentes perspectivas e percepções humanas e de como estas podem nos confundir.

Estava meu pai à frente do balcão de venda de carnes perguntando o preço de determinado tipo de carne e o vendedor respondendo onde era o banheiro. Então meu pai começou a se irritar pela resposta que julgou como “malcriada” do vendedor que, apenas não havia entendido bem o que meu pai perguntara, achando que este havia perguntado onde se encontrava o banheiro.

Como eu estava de fora da situação pude percebê-la em sua totalidade, percebendo também que esta não passava de um grande mal entendido, mas que poderia terminar com uma discussão e irritação de ambas as partes caso não fosse esclarecido.

No caso citado cada um teve uma perspectiva diferente da situação, não conseguindo perceber a perspectiva do outro.

Assim ocorre também na vida cotidiana, onde cada pessoa por ter a “sua” verdade como absoluta não consegue enxergar a verdade ou a perspectiva do outro.

Para uma vida mais harmônica em sociedade, é necessário que cada um procure ver ou entender mais a perspectiva do outro, e não de forma a julgar o próximo como um inquisidor à espera de qualquer falha, mas sim com uma postura alteritária procurando entender a percepção do outro diante das mais diversas situações, e somente assim compreendê-lo.

Se não tivéssemos tantas “verdades pessoais e absolutas” para acreditar não nos enganaríamos tanto, seríamos mais compreensivos, menos melindrosos e evoluiríamos mais rapidamente, não entrando em tantas contendas e discussões desnecessárias, afinal existem pequenas contendas que poderiam se resolver em minutos, mas que se arrastam sem solução por anos e anos.

Devemos encarar nossa visão apenas como uma perspectiva da situação, e não a perspectiva. Isto permitiria (mesmo que de forma inconsciente) a aceitação pelo menos da existência de outras verdades diferentes da nossa, e assim não nos fecharíamos para o entendimento do que se passa com os outros envolvidos que têm também suas próprias perspectivas.

Neste sentido, a frase conferida a Jesus “Amar o próximo como a si mesmo e fazer para os outros o que quereríamos que os outros fizessem por nós” caracteriza-se como uma das maiores diretrizes para a boa vida em sociedade e para a convivência fraterna entre os homens.

Esta máxima, tão grandemente comentada e pronunciada pelos homens, está ainda distante de ser observada na prática diária da sociabilidade humana, ou seja, muito se fala e pouco se pratica, principalmente por sua grande profundidade de sentido que, traz para seu cumprimento a necessidade de auto-conhecimento e alteridade.

Desta forma, é importante conhecer-se a si mesmo para poder se amar verdadeiramente e compreender alteritariamente as perspectivas do outro para poder fazer a este o que gostaríamos que nos fosse feito.

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