Todas as noites, antes de dormir, vou “pastorar” minha pequena no berço no sono dos justos. E, nesse momento, peço veemente pela proteção dela e rogo a ajuda dos nossos amigos espirituais para me orientarem na sua educação. Todas as noites antes de dormir... Já fiquei em claro algumas delas. Mas não foi só por causa de Isadora – a minha pequena. É porque sou impressionável!


Impressiona-me os casos que tomo conhecimento de violência contra a criança, física ou psicológica. Tomo conhecimento! Porque acompanhar esses casos, para mim, é morbidade! Mas as pessoas insistem em comentar sobre esses assuntos e tratam de pormenores que, sinceramente, eu poderia ser poupada. E isso acontece nos lugares dos quais não tenho a chance de sair. Só me resta pedir: “Gente, por favor, vamos mudar de assunto!”


Um dia, conversando com um amigo que também tem um filho pequeno, falei sobre como esses assuntos fazem aflorar em mim os sentimentos mais primitivos, do “olho por olho, dente por dente”, do “fazer justiça com as próprias mãos”. Só quando racionalizo que me questiono: “eu teria a coragem de perdoar?”. E lembro de Massataka Ota – para mim, um dos maiores exemplos de perdão. Em 1997, ele teve o filho, de 8 anos de idade, seqüestrado e assassinado. Anos depois, como voluntário, ajuda a implantar uma horta no presídio onde estão os assassinos do filho para os detentos trabalharem. Ele diz ter perdoado aqueles homens. Amigos, permitam-me ser frágil: eu não tenho a mesma coragem!


E qualquer tentativa de justificar esses atos de violência contra a criança me parecem de mau gosto. Pode ser com a melhor das boas intenções! Estava no karma, precisava passar por isso por ter feito com outros em vidas passadas (olha o “olho por olho” aí!). Que é isso!? Acho que jamais racionalizaria nesse nível!
É melhor eu tentar ver a partir da perspectiva do outro – senão inicia uma cascata de sentimentos e emoções nenhum pouco louváveis. O que leva uma pessoa a cometer tais atrocidades? Toda e qualquer aberração do sentimento humano deve, sim, ter uma explicação. Mas não justificativa!


Ninguém nasce predestinado a cometer crimes. Talvez a infância dessas pessoas não tenha sido das melhores. Perversão, orgulho, ódio, sociopatia, psicopatia, antipatia, inveja, violência, apatia, negligência... O que fizeram delas e o que elas fazem daquilo que fizeram com elas pode, sim, explicar a origem dos desvios morais de quem atenta contra a integridade de uma criança.


A revolta contra o criminoso é inevitável. Bem que poderia servir de móvel para a busca de entender o que acontece ou o que aconteceu com o autor! Se existe algo positivo nesses tristes enredos da vida real, ressalto os movimentos pela paz e o cuidado com as nossas crianças para o desenvolvimento saudável delas, tanto físico como psicológico e moral.


Perdoar... Hoje, para mim, é difícil. Tento compreender...
E todos os dias, antes de dormir, peço, com toda força do meu coração, pela proteção da minha família, pela saúde, alegria, segurança, tranqüilidade e força da minha pequena. E que eu e meu companheiro sejamos orientados pela espiritualidade para a melhor forma de educar Isadora.

 

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