Nunca consegui aceitar passivamente a manifestação popular da malhação de Judas. Considero-a uma prática bárbara que lembra as atitudes apaixonadas, características de um período negro da história da humanidade que todos gostaríamos de esquecer, quando os estados teocráticos vigeram soberanos, no decorrer da Idade Média.

O que mais me intriga é que tal prática tem a conivência da imprensa, das religiões e da sociedade de uma forma geral, como se uma turba “enfurecida” estraçalhando alguém fosse a coisa mais natural do mundo, por mais simbólico que seja o fato. Aliás, quanto mais simbólico mais estarrecedor se torna.

Somos um país eminentemente cristão, mas de um Cristianismo cada vez mais afastado da moral defendida por Jesus de Nazaré, que com suas palavras e seus exemplos, nos concitava à retidão de caráter e, enfaticamente, ao perdão das ofensas e a reconciliação com os inimigos. Definitivamente não é isso que se salienta quando se dá ênfase à prática a que nos referimos.

Qual seria a postura da sociedade perante a opção pelo linchamento de um criminoso? Que moral teremos para evocar o respeito à lei se somos permissivos com práticas que simbolizam a barbárie?

Nestes tempos, em que inúmeras organizações se engajam em campanhas pela paz e pela convivência solidária e fraterna entre os povos, soa hipocritamente a difusão e o apoio a tais práticas.

Já basta de vinganças! Já basta de guerras! Já basta de terror, de opressão, de invasões, de ódio! Estamos atrasados na assimilação do amor!

Mais benefício faríamos à humanidade se em vez de condenar, malhar, trucidar o criminoso, tratássemos de perdoá-lo, ampará-lo, reeducá-lo, mormente quando já tendo cumprido sua pena prestou conta de seus atos perante a sociedade, tal como Judas, que se arrependeu do suposto crime cometido e já teve o perdão de quem mais sofreu com sua atitude do passado.

Fazemos questão de algum simbolismo? Então vamos pegar o boneco que representa Judas e abraçá-lo, carregá-lo conosco na nossa caminhada, mostrar a ele que não guardamos rancor em nosso coração e que o ódio já não faz mais parte da nossa filosofia de vida. Isto sim seria fidelidade à filosofia de Jesus.

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