Foi num desses instantes da vida... Um insight, um estalo... Dei-me conta que não sou nada sem o mundo que me cerca. Do grão de areia da praia que fica em frente a minha casa até a pessoa mais importante para mim. A todo instante, em qualquer lugar, sempre existe algo que me ensina a aprender.
No mesmo trajeto que faço todos os dias, vi o mesmo “flanelinha”, que está todos os dias na frente da empresa que trabalho, indo para tomar o seu posto. Deu-me um sorriso muito sereno... Não desdenhava da possibilidade dele manter a paz de espírito mesmo sem as condições econômicas de que disponho. Mas aquele gesto me surpreendeu. Retribuí o sorriso. E eu aprendi, naquele instante, que serenidade, muito mais que um desejo, é um exercício – não existe momento para ela, mas, sim, disponibilidade.
Passei a refletir nas situações corriqueiras da minha vida. E os momentos de aprendizado que elas me proporcionaram.
Quando meu pai ia me deixar de carro no trabalho, aprendi com ele que educação no trânsito é o melhor exemplo de convívio em sociedade e de respeito ao próximo. Quando passava mais tempo em casa, aprendi com minha mãe que cantarolar uma canção enquanto o mundo está desabando alivia toda a tensão. Aprendi com minhas irmãs que, por mais puxões de cabelo que tenha dado, sempre serei um exemplo e que um minúsculo quarto pode conter os melhores esconderijos numa brincadeira de esconde-esconde. Aprendi que família a gente escolhe sim. Quando imagino não tê-los na minha história de vida não consigo supor como poderia ser uma pessoa melhor.
Nas conversas despreocupadas com meu esposo, aprendi que um grande amigo pode ser um grande amor. Mas que um amor, sem amizade, não dura muito tempo. A amizade está na base da escala de evolução do amor.
Nos dias de inverno, aprendi que quem está na chuva é para se molhar. Para que correr então?! Preocupação com o que vem depois só me fez perder, ou melhor, não perder o tempo – porque ele acontece e passa, independente da minha vontade, se estou curtindo o momento ou não.
Aprendi que estresse é coisa de gente que se deixa dominar pelo que vem de fora. Enquanto não toma as rédeas do próprio destino, é um boneco manipulado pelas exigências do mundo dos outros.
Aprendi que ser mãe não é uma simples opção que se marca num teste vocacional. Exige preparo físico, emocional, psicológico e espiritual. Engravidar não valida a competência na função.
Ser pai não é ser mero espectador. Se assim for, os filhos farão dele uma platéia apática, quieta, sem intervir, que só paga o ingresso para sustentar o drama. É preciso muito mais. Que seja um espectador! Mas de um espetáculo de rua, onde o público participa, aplaude quando quer, chora na emoção e com a dor, sorri com as peripécias dos atores e é amado pelo que ama.
Aprendi, ainda, que a gente oferece o que tem de melhor. Se não quiserem receber, é porque é para outra pessoa. Não adianta suar até a última gota para conquistar o outro. É preciso se auto-conquistar e auto-aceitar. Nossa aceitação pelas pessoas é conseqüência do que aceitamos em nós mesmos.
Aprendi que amigos a gente conquista. Não basta bater os olhos e, como num passe de mágica, tornam-se os melhores amigos um do outro. E que a gente pode encontrá-los em qualquer lugar, em situações inusitadas ou antigas mesmo. O mundo é um celeiro de amigos e você pode encontrá-los a milhares de quilômetros de distância física, intelectual ou de cargos. Identidade de pensamento não é quesito para ser um bom amigo.
Aprendi que andar de ônibus ajuda a gente a exercitar a paciência, humildade e companheirismo.
Aprendi que valor não é o que atribuímos. Mas é o que temos e transferimos para as coisas, idéias ou gente. Aprendi que perereca só pula na gente quando queremos fugir delas. Que os animais nos escutam. Que as flores ficam mais perfumadas pela manhã. Que o sol pode parecer mais ameno quando abrimos os braços para ele. Que o vento é uma vassoura para varrer os sentimentos ruins e a chuva é o jato de água que limpa. Você já reparou que quando o clima está pesado vem uma ventania e, logo depois, a chuva?
Aprendi com meu cachorrinho que ser fiel não depende da forma como é tratado. Mesmo escorraçado pelo dono, pede colo e abana o rabo. Aprendi que cor é como a gente vê e não apenas o que pinta. O mundo pode estar rosa, mas eu posso vê-lo cinza ou alaranjado. Uma calça marrom pode parecer verde, ou o contrário.
Aprendi, com as crianças, a dizer sim quando quero. E não quando não quero. Ou o contrário! Parece fácil. Mas só notei que fiquei adulta quando dizia sim, mas queria dizer não. Deixei me moldar para ser aceita no grupo. Quando assumi o que sou, poucos ficaram comigo. Por outro lado, conheci gente que nunca imaginava conhecer! Aprendi que é muito simples exigir respeito às minhas idéias, convicções e posturas. Mas é muito difícil aceitar o outro incondicionalmente.
Aprendi que eterno não é só Deus. O meu aprendizado também. Estou, constantemente, aprendendo a aprender. E que é preciso estar aberto para detectar, numa fila de banco, uma nova oportunidade de aprendizado.
E aprendi, sobretudo, que tudo isso só eu pude aprender. O conteúdo pode ser o mesmo para as pessoas. A forma como nos colocamos diante do mundo é que difere o aprendizado.