O ser humano valoriza mais a forma que o fundo. Geralmente damos mais ênfase àquilo que nos salta aos olhos, ouvidos e bocas que ao coração e a consciência. Neste período de fim de ano temos uma prova cabal da hipervalorização da forma: é o período de maior venda no comércio, dos inúmeros presentes de tão belas embalagens e tão pouco conteúdo que realmente chegue aos corações e mentes humanas.
Comemora-se o nascimento, a morte e o sofrimento daquele conclamado pela maioria das pessoas do ocidente como o maior de todos. Mas quando há comemorações para as virtudes e a mensagem reflexiva que ele trouxe? Nossos feriados são da forma e não do fundo. Apesar de ter um “ar” solidário de compaixão ao próximo são tão efêmeros quanto os presentes comprados. Qual é o feriado das bem-aventuranças? Que dia paramos para o “amai aos vossos inimigos”? Que dia comemoramos “fazei ao próximo aquilo que quereis para ti”? A resposta, infelizmente, é nenhum dia. Até porque esses dias não existem, ainda utópico seria pensá-los vivenciados nas relações humanas.
Quando o natal não somente simbolizar compra, nem nascimento de um homem, mas nascimento de idéias de amor, os presentes serão outros: gestos de afeto e de respeito pela dignidade humana. Quando a páscoa comemorar não a morte e a ressurreição, mas a virtude do bem querer a todos, deixaremos os chocolates em outros planos, para concentrarmos na humildade, não em lavar os pés alheios, mas de reconhecer no outro toda capacidade de amar, toda possibilidade de desenvolver e fazer parte também da construção de um mundo melhor.
Quando os “dias santos” chegarem, na realidade, serão todos os dias que veremos diminuir a violência, os dias que melhorarem a distribuição do bem-estar social e mais pessoas serão conscientes de seu papel no mundo. Devemos comemorar sempre o bem, as virtudes e todo aquele movimento feito por pessoas que querem um mundo melhor para todos. O natal, a páscoa, e os outros dias não são dias cristãos, deveriam ser dias de reflexão e ação no bem, dias de todos, sem rótulos, sem personificação, em coletividade, sem forma, com toda e qualquer intenção que construa o amor.