Essa frase emblemática do filósofo existencialista Jean-Paul Sartre deveria ser mais observada em nossa sociedade. Isso porque o questionamento é uma das bases da autoconstrução humana e é um ponto fundamental do relacionamento ético. Esta idéia pode parecer paradoxal, mas o paradoxo advém apenas de uma análise superficial do pensamento acima transcrito.
A ausência de questionamento implica, necessariamente, na dogmatização das idéias. E é justamente este o ponto de origem dos diversos problemas humanos: quando não se duvida, crê-se que a verdade já tenha sido alcançada e neste caminho tal verdade é a única com exclusão de todas as demais. Assim, não é necessário aprender com o outro, não é necessário perceber que o outro tem algo ensinar, pois tudo o que se conhece é certo e incontestável. Daí a origem da intolerância, das guerras religiosas, dos embates ideológicos, dos conflitos étnicos, todos tendo por ponto de partida o engessamento da capacidade humana de aprender e ensinar, de vivenciar o novo como uma experiência indispensável à construção individual e social.
Quando não se pergunta, por outro lado, é-se manipulado, conduzido como uma ovelha. A mídia cria necessidades irrelevantes e dispensáveis, mas cegamente desejam-se os objetos oferecidos. E tudo isto, aos poucos, torna os seres humanos cinicamente passivos perante as injustiças e distorções sociais, reproduzindo comportamentos preconceituosos apenas porque se insere na tradição ou porque “isso é assim mesmo” e “pau que nasce torto morre torto”.
Questionar alteritariamente, dentro dos ditames éticos e não apenas para polemizar de forma infundada, significa querer e buscar novas alternativas para a realidade. Significa entender que a verdade é uma construção histórica e dialógica. Significa, principalmente, entender que as diversas opiniões não se excluem e, por isso, tem-se sempre algo novo a aprender, porque no fundo “só sei que nada sei”.