O ser humano adora uma algema!
Desde o mito de Adão e Eva, já o homem é retratado como extremamente dependente do seu semelhante, do meio em que vive e, principalmente, de uma divindade, apesar de ter-se-lhe atribuído livre-arbítrio.
A história mostra que a cada instante os indivíduos e os grupos sociais ficam perdidos quando não possuem ascendência sobre outrem e muito mais quando não existe uma liderança que lhes demarque os caminhos e lhes indique os rumos que devem seguir. Este papel de orientadora tem sido exercido pelas religiões desde as mais remotas eras, quando não por magos e pitonisas.
Hoje, proliferam pelo mundo religiões com características fundamentalistas que induzem os fiéis à crença cega, irrefletida, oferecendo a perspectiva já não do reino dos céus, mas do da terra mesmo, aproveitando-se das mais diversas carências e daquele gosto meio masoquista do homem pelas “algemas” ou “muletas”.
Compreende-se que o inter-relacionamento pessoal é de fundamental importância nas aquisições morais e intelectuais do ser humano, a ponto de considerar-se impossível qualquer evolução para um indivíduo que porventura vivesse em total isolamento. Entretanto, é muito diferente “interação” de “interdependência”. Na primeira, existe a troca de experiências e cada um assimila e toma decisões de acordo com seu próprio discernimento. Na segunda, na interdependência, até pode haver trocas e assimilações significativas, mas que não se refletem nas próprias decisões, ficando estas dependentes da vontade ou da opinião do outro.
Assim, com essa passividade, essa dependência generalizada, fica muito fácil o indivíduo considerar-se incompleto e sonhar com uma alma gêmea (ou seria algema?) que venha completá-lo. Aceita-se até a visão romântica dos casais apaixonados ou de corações carentes de amor, atribuindo-se incompletude em face à ausência do ente amado.
Aquece-se o coração humano, ainda muito egoísta, com a possibilidade de um amor exclusivo. O homem (e a mulher também, é claro) sonha com isso. Povoa-lhe o íntimo a ânsia por uma felicidade desconhecida, mas profundamente almejada.
Ah, ciência do espírito! Com ela podemos nos aperceber que gêmeos somos todos nós. Ou seja, cada um pode considerar sua alma gêmea todas as demais e a tão esperada felicidade está lá no futuro nos esperando, quando todos tivermos adquirido em moralidade e intelectualidade o suficiente para vivermos em harmonia.
Portanto, bendita seja a algema que nos liga uns aos outros nas experiências cotidianas, mas, sobretudo, bendita seja a chave do conhecimento, da sabedoria, do discernimento, que abrem os grilhões que nos mantém presos àqueles que se recusam a aceitar as transformações e procuram colocar obstáculos ao livre curso da evolução.